Na língua portuguesa existem letras (grafemas) com sons (fonemas) muito parecidos e que são denominado de pares mínimos.
Os grafemas: P, T, C/K, F, S e CH/X
A distinção de alguns fonemas pode ser feita através do traço de sonoridade, sendo alguns surdos e outros sonoros. Os fonemas representados pelos grafemas: P, T, C/K, F, S e CH/X são considerados surdos, pois não apresentam vibração das pregas vocais quando são produzidos.
Os fonemas: B, D, G, V, Z e J
Já os fonemas representados por B, D, G, V, Z e J são caracterizados como sonoros, pois são emitidos com vibração das pregas vocais. Devido à oposição destes dois grupos, pelo traço de sonoridade, temos as chamadas trocas de natureza auditiva ou “surdas/ sonoras”, caracterizadas pela oposição dos seguintes pares: P/B, T/D, K/G, F/V, S/Z, CH/J.
Cada par apresenta o ponto articulatório idêntico (lugar onde ocorre a aproximação ou o encontro dos órgãos que produzem a fala)
Notar a Diferença entre Eles é muito Sutil
A habilidade necessária para que o indivíduo perceba a diferença sutil entre os sons é a habilidade de discriminação auditiva. A estimulação dessa habilidade, que deve acontecer na educação infantil, auxilia as crianças perceberem essa sutil diferença entre esses pares de sons.
Ao pesquisar o aspecto fonológico (produção dos sons da língua) em crianças sem queixas de problemas em seu desenvolvimento (linguagem, cognitivo e motor), Wertzner (2000) concluiu que durante o processo de desenvolvimento de aquisição da fala não é esperado que as crianças façam essas trocas (nem surda por sonora nem vice versa).
Trocar o Fonema e o Ensurdecimento
Se a criança apresentar o ensudercimento (trocar um fonema sonoro por um surdo) ou a sonorização (surdo por sonoro e menos freqüente) na fala já deve ser encaminhada para uma avaliação.
Na aquisição normal do sistema fonológico, há o uso de substituições e/ou omissões de forma geral e o que se observa é a aquisição completa entre seis e sete anos, tendo seus principais avanços entre dois e quatro anos de idade (Bondrani et al, 2002). Portanto o final da aquisição normal coincide com a faixa etária em que se inicia a alfabetização.
Crianças que Dominam Melhor os Fonemas, estão mais Preparadas para Leitura e Escrita
As crianças que já dominam os fonemas estão mais preparadas para transferir as regras fonológicas para a leitura e escrita. A fala pode orientar ou até determinar as estratégias a serem selecionadas na escrita, através da relação fonema/grafema.
No início do processo de alfabetização é bastante comum elas se apoiarem na oralidade para relacionar som e letra, pois não possuem um ponto de referência visual prévio sobre o conhecimento a cerca das palavras e passam a resolver esta dúvida sobre qual som/fonema deverá usar, pronunciando-os.
No entanto, em sala de aula isso não é possível, então passam a “sussurrar” as palavras, o que faz esta produção assemelhar-se a um som surdo, ou seja, sem sonoridade.
Desta forma, escrevem um som sonoro como surdo, pois ainda não conhecem a ortografia nem fazem uso de uma imagem mental (sonora/auditiva) para identificar qual letra deverão utilizar e acabam por comparar apenas à imagem mental de fala real.
Alguns problemas, podem ir diminuindo ao longo da Escolaridade
Zorzi (2009) ao estudar a apropriação do sistema ortográfico observou o material escrito produzido por 514 alunos de São Paulo e as trocas surdas/sonoras apareceram em 7º. lugar em frequência. E concluiu que elas diminuíram ao longo da escolaridade (a freqüência de 1.3% no 2º. ano caiu para 0.4% no 5º. ano).
Se a criança apresentar este tipo de troca na fala e/ou na escrita, é muito importante que seja realizada uma avaliação audiológica e do processamento auditivo para descartar alterações audtivas e que esta criança seja encaminhada para uma avaliação fonoaudiológica onde serão investigados aspectos da linguagem oral e habilidades relacionadas com a leitura e escrita. Os achados da avaliação poderão orientar os pais e nortear a conduta da escola e do trabalho específico.
Regiane A. Crippa