Dona Vera Lúcia com os quatro filhos — entre eles o caçulinha, Gabriel Jesus
Foto: Arquivo Pessoal

Seis dos 11 jogadores titulares da Seleção Brasileira que disputa a Copa da Rússia trazem em suas histórias de vida algo que se tornou uma realidade no nosso país: eles cresceram distantes da figura do pai biológico. Atletas como Thiago Silva, Miranda, Marcelo, Casemiro e Paulinho foram criados em lares comandados por mulheres.

Além deles, Gabriel Jesus, o caçulinha da seleção é outro craque que tem muito orgulho da mãe guerreira. O menino, que nasceu abençoado até no nome, idolatra dona Vera Lúcia. Além de ter o rosto dela tatuado no corpo, ele costuma se declarar para a mãe nas redes sociais.

O atacante também tornou famosa a comemoração “Alô, mãe”, em homenagem à dona Vera toda vez que marca um gol. A mãe estava grávida de Gabriel quando o marido a abandonou com outros três filhos pequenos. A família morava no Jardim Peri, na zona norte da capital paulista, onde ela trabalhava como empregada doméstica.

Apesar das dificuldades, dona Vera vestiu o uniforme de pai e mãe e foi a campo para garantir a educação dos filhos. “Muitas mães criam seus filhos longe dos pais. Quando a gente se separa, a gente separa marido e mulher. Eu acho que não se deve separar o pai dos filhos. O Gabriel sentiu muita falta do pai, mas eu tentava cobrir todos os lados. Lembro uma vez que ele me trouxe um bilhetinho do Dia dos Pais e disse: “olha mãe, como eu não tenho meu pai, isso aqui é pra você. Desde pequeno ele sabia que eu era o pai e mãe dele. Eu conversava sobre tudo com meus filhos. Consegui desempenhar bem o papel de pai e de mãe e, por isso, meus filhos hoje reconhecem”, conta dona Vera Lúcia de Jesus.

De tanto ligar para dona Vera, Gabriel criou a comemoração “Alô, mãe” quando marca gol
Foto: Reprodução/Instagram

A psicóloga Ana Paula Magosso Cavaggione afirma que é possível criar um filho, de forma saudável, mesmo longe do pai. “Hoje, nós falamos muito da questão da função materna e da função paterna. É importante sim que a criança tenha ao longo de sua vida essas duas funções sendo exercidas, mas não necessariamente pela mãe ou pelo pai. É possível criar uma criança saudável sem a presença do pai? É possível, desde que haja alguém junto aquela criança exercendo essa função do pai”, relata.

E o rigor da mãe deve ser como o de um técnico em final de campeonato. “A parte do pai eu tinha que fazer, o lado mais masculino, mas eu tive que encarar isso e hoje nós temos um bom relacionamento e conversamos sobre tudo. Eu sempre quis criar meus filhos no caminho do bem e não é fácil criar na periferia. Não condeno ninguém, mas o conselho que eu dou é estar sempre examinando e acompanhando seus filhos. Eu consegui, graças a Deus em primeiro lugar, a conciliar as duas coisas: pai e mãe. Toda mãe tem que estar atenta aos seus filhos”, acrescenta a mãe de Gabriel Jesus.

A mãe do craque comemora o bom relacionamento com os filhos e o sucesso ao ser pai e mãe
Foto: Reprodução/Instagram

Dona Vera Lúcia é apenas uma das centenas de mulheres escaladas para este time tão especial. Pesquisas recentes revelam que 40% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

E a batalha de dona Vera rendeu frutos. Se há quatro anos o jovem Gabriel Jesus pintava as ruas do Jardim Peri, hoje ele integra o elenco da Seleção que disputa o mundial da Rússia. “Eu imaginava sempre dar uma vida melhor para os meus filhos, que eles estudassem e se formassem. Mas isso que eu estou vivendo hoje eu não imaginava. Mas aconteceu e eu estou muito feliz de o meu filho estar conseguindo conquistar os sonhos dele”, finaliza.

Confira a reportagem completa de Carla Mota, com colaboração de Ana Paula Novaes e sonoplastia de Evandro Almeida, no áudio no topo da página. Basta clicar o botão play.