Nos últimos anos, temos assistido a um aumento alarmante dos diagnósticos psicopatológicos da infância. Segundo a OMS, 10 a 20% das crianças atendidas em consultórios pediátricos estão submetidas a esses diagnósticos, como a depressão infantil, o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), o transtorno de conduta ou o autismo, por exemplo.
Porém, esses diagnósticos partem de critérios organicistas e deterministas ditados pelo DSM e pelo CID-10, que não levam em conta a subjetividade do sujeito e destinam a crianças a submeterem-se a intervenções medicamentosas, que controlam seus sintomas, ou reeducativas, produzindo um fenômeno social atual que vem sendo denunciado por inúmeros trabalhos e que vem assumindo proporções assustadoras: a medicalização da infância, que transforma questões sociais, subjetivas, culturais e até mesmo políticas e econômicas em problemas médicos.
Recentes pesquisas nas áreas da Neurociências e da Psicanálise tem demonstrando alguns pontos importantes que não devem ser desconsiderados:
- os bebês mostram, desde muito cedo, sinais de que algo não vai bem;
- bebês submetidos a experiências traumáticas, desde a sua concepção, apresentam risco aumentado de apresentar uma psicopatologia na infância;
- é possível detectar estes sinais riscos desde os primeiros meses de vida e realizar uma intervenção “a tempo”, evitando a instalação da psicopatologia antes que a mesma se cristalize, ou atenuando seus efeitos sobre o sujeito;
- quanto mais precocemente for realizada a intervenção, melhor o prognóstico;
- o bebê é um ser complexo, e nenhuma ciência sozinha dá conta de sua complexidade.
Diante da necessidade de melhorar e ampliar o atendimento desta população a equipe interdisciplinar da CLIA Psicologia, Saúde & Educação iniciou, em 2014, o “Programa Grão de Areia” com objetivo de acompanhar o desenvolvimento global de bebes de zero à 36 meses de idade, nascidos ou não em situação de risco , contemplando o bem estar físico, social e psíquico desses indivíduos, além de oferecer suporte às suas famílias através de programas terapêuticos e psicoeducativos de maneira a favorecer, facilitar e estimular os laços entre pais e filhos, com o apoio de uma equipe interdisciplinar embasada na psicanálise.
Trata-se de um espaço lúdico, de interação pais-bebes, no qual os profissionais da equipe trabalham com intervenções grupais, individuais, além de oferecer aos pais um espaço terapêutico e de orientações psicoeducativas que impactam na promoção e prevenção da saúde mental dos bebês e seus pais.
Envolvem-se no programa profissionais das áreas de: psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia, psicopedagogia, nutrição, neuropediatria e pediatria, sendo o psicólogo psicanalista o membro da equipe referência, presente em todos os encontros, juntamente com mais dois outros profissionais que se revezam de acordo com as necessidades verificadas em cada grupo.
Fatores de risco:
Prematuridade, internações ou separações precoces dos pais, malformações, síndromes genéticas, atrasos de desenvolvimento, dificuldade em dormir e se alimentar, mãe acometida por depressão pós-parto ou outra patologia psíquica, por exemplo.